Comida é Como Droga para Gordo

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Este é o endocrinologista Marcelo Maia Pinheiro de Cuiabá, Mato Grosso. Ele atua há cerca de 15 anos na cidade e acompanhou de perto a batalha trava pelos "gordinhos" para se livrar não é do excesso de peso, mas também de doenças como diabetes, por exemplo.

Abaixo você irá conferir a entrevista que Marcelo deu ao MidiaNews, onde ele explica que a chave para se livrar dos quilos extras é psicológica e ainda alerta que esta se trata de uma luta quase inglória, na qual a obesidade tem prevalecido, na maioria das vezes.

Segundo ele, pouco mais da metade dos pacientes que começam o tratamento desiste no meio do caminho pelo fato de que o processo de emagrecimento mexe com um dos prazeres do ser humano: a alimentação.

Confira a entrevista do endocrinologista Marcelo Maia Pinheiro abaixo:


MidiaNews – Por que é tão difícil emagrecer?

Marcelo Maia – Porque nós trabalhamos com um dos prazeres do ser humano, que é o alimento. Ele não está ligado apenas à necessidade biológica de nutrir o corpo. A gente usa a alimentação como forma de prazer, de aliviar a ansiedade, a depressão. Então, tem um vínculo afetivo com a comida. Usamos a comida para presentear: a mãe faz uma comida especial para o filho para agradar, reuniões sociais sempre tem comida farta. Somos bombardeados o tempo todo com oferta de comidas gostosas e calóricas. Então, para você se manter dentro de um bom peso, precisa se policiar o tempo todo para não cair em tentações. Esse é o mecanismo que dificulta ainda mais a manutenção da perda de peso. O biológico atua aí. Fomos treinados para armazenar energia. O problema é que a gente não gasta mais, temos atividades limitadas a coisas intelectuais. Até mesmo, o trabalhador da construção civil não usa a musculatura como no passado, com tantos equipamentos tecnológicos.

MidiaNews – Trabalhar para mudar a relação sentimental com a comida é a parte mais difícil de um processo de emagrecimento?

Marcelo Maia – Existe um vínculo afetivo com a comida e isso foi construído ao longo dos anos. A mãe, muitas vezes, associa o choro da criança com a necessidade da alimentação e nem sempre é isso. Às vezes, a criança está com a fralda encharcada de urina, está com cólica e a mãe acha que isso é fome e dá mamadeira ao filho. A criança, então, vincula que toda vez que estiver com a sensação de desconforto, precisa comer. Seja pela dor física ou emocional, se condiciona o ser humano a isso.

MidiaNews – Por isso muitas pessoas acabam comendo mais quando termina uma relação?

Marcelo Maia – Exatamente. Tem muito a ver com isso. As vias da recompensa, as que nos dão prazer, são as mesmas do alimento, da droga, do álcool e do cigarro. Então, a comida, para alguns, funciona como droga, um vício que é difícil parar, e para isso precisa de tratamento médico, mas psicológico. Diferentemente do álcool, do “só por hoje, não vou beber”, você não pode dizer “só por hoje, não vou comer”. Em todo lugar que você vai, sempre vai ter um para lhe oferecer comida. Para quem gosta de doce, chocolate funciona como gatilho: começou um dia, vai destrambelhar. A sensação para algumas pessoas que come chocolate é a mesma sensação de quem usa cocaína: vai buscar de novo a mesma sensação. Por que não acontece com todo mundo? Nem todo mundo que usa cocaína fica viciado, nem todo aquele que bebe se torna alcoólatra. É a forma como você lida com o prazer e a recompensa.

MidiaNews – Qual a melhor forma de combater a obesidade? Medicamentos, reeducação ou cirurgia, exercícios físicos...?

Marcelo Maia – Depois de 15 anos na profissão, eu vi que o melhor caminho é tratar a cabeça. Nem todo mundo que esta acima do peso tem problema psicológico, mas na forma de lidar com o alimento. Já vi paciente que operou, não sentia fome, mas sofria quando ia à casa da mãe e via aquele pratão de comida, comeu um tantinho e sobrou um monte para os irmãos. Se não sente mais fome, para que comer mais? O problema é que ele sentia prazer em comer. Então, precisou desconstruir de que, agora, precisa comer um quinto do que precisava comer antes, mas existe uma luta contra isso e o paciente entrou em depressão, tiraram o prazer dele. Primeiro, a gente precisa melhorar essa relação, aí entra a reeducação alimentar, de que tudo é possível, mas a quantidade é o que faz a diferença e atividade física. Medicamento e a cirurgia são coadjuvantes, nessa mudança de hábito. Se fizer só isso, o paciente ganha peso de novo. Não é problema do remédio, mas da obesidade, por isso é tão difícil emagrecer.

MidiaNews - Atualmente, fala-se na dieta da proteína, a Dukhan, dieta primitiva, dieta dos anjos, entre tantas outras da moda. Esses regimes funcionam?

Marcelo Maia- Todas as dietas que inventaram até hoje emagrece porque todas elas vão levar você à redução calórica. A dieta dos carboidratos, do Dr. Atkins, veio só mudando de nome com o tempo, mas é a mesma. O cara inventa uma coisinha ou outra, mas é a mesma. Comer proteína e um monte de gordura no total como esses alimentos dão mais saciedade para você, que acaba comendo menos e perde peso. O problema é que toda mudança radical leva à monotonia: você vai querer carboidrato, vai querer mudar, por isso o melhor é comer de tudo e menos. A mudança drástica vai fazer reduzir, mas não vai manter por muito tempo e não gera reeducação alimentar.

MidiaNews - O que é necessário para que um programa de regime seja eficaz?

Marcelo Maia – Aprender a comer de tudo e em quantidades menores. Se você me perguntar: doutor, se tudo o que como hoje eu cortar pela metade emagreço? Eu respondo: emagrece. Se você como quatro pedaços de pizza, come dois, se come um kit do McDonald´s, come a metade e vai emagrecer. Agora, precisamos discutir a qualidade do você está comendo. Você pode perder peso e ter colesterol alto, não ingerir a quantidade de vitaminas importantes para combater os radicais livres. Se você reduzir peso sem melhorar a qualidade da comida, não adianta nada. Tenho muitos pacientes que passaram por cirurgia bariátrica e estão magro porque comem um décimo do que comia antes. Mas você faz exame verá que ele está anêmico, com osteoporose, deficiência de selênio, zinco, porque está com a alimentação desequilibrada.

MidiaNews – Emagrecer de forma saudável é mais importante do que perder peso apenas?

Marcelo Maia – Sem dúvida, é o mais importante. Existe uma discussão, hoje, na nutrição e na endocrinologia, que é a fome oculta. A deficiência de vitaminas e sais minerais de uma dieta desbalanceada e isso leva você a ter fome exagerada. O organismo pede uma coisa para nutrir, mas a resposta que você dá é um chocolate, um milk shake, algo palatável. Mas, não vão nutrir o organismo, sempre vai ficar aquela deficiência avisando você com aquela sensação de fome, e você vai e come a coisa errada. Uma paciente me relatou que a nutricionista passou quinoa, castanha e acabou com a fome dela. Muito provavelmente, ela tinha essa deficiência e, depois de comer grãos, raízes que complementaram isso, o organismo parou de sentir fome. Por isso, os orientais comem menos, eles comem muita coisa saudável e balanceada.

MidiaNews – Como a pessoa pode ter o controle das calorias que ela consome, a qualidade da comida que ela consome?

Marcelo Maia – Hoje, a gente precisa para fazer uma dieta boa uma nutricionista com bom conhecimento de nutrição funcional. Ela faz o levantamento do que você está comendo e joga em um programa, que vai analisar se sua dieta está pobre e de quais vitaminas e minerais. Aí, ela faz a técnica de adequação. No passado, fazia tudo no ‘chutômetro’.


MidiaNews – O que é mais difícil emagrecer ou manter o peso?

Marcelo Maia – Manter o peso, emagrecer é mais fácil. Quando você perde o peso de forma equilibrada, depois que você chegou onde que,r tem que mantê-lo por seis meses a um ano. Não pode perder ou ganhar, aí você programa o organismo para aquele novo peso. Antes desse período de seis meses, o corpo vai tentar, de todas as formas, te levar para o peso antigo, a fome vai aumentar, tem que tomar muito cuidado nesse período. Essa é a fase mais difícil. Depois que fica magro, não pode querer comemorar na churrascaria.

MidiaNews - Num processo de emagrecimento, a dieta é mais importante do que os exercícios físicos? Qual o percentual de contribuição de cada um desses itens?

Marcelo Maia – Para perda de peso, a dieta é mais importante. Se você reduzir mil calorias da dieta, é mais fácil do que gastar mil calorias no exercício. Se você fizer uma hora de caminhada, vai gastar 300 a 400 calorias. Para reduzir mil calorias na dieta, é só tirar o kit McDonalds; e se você vai fazer academia, gastará umas 550 calorias. Mas, para perder peso, só fazendo exercício, e sem reduzir calorias da dieta é muito mais difícil. Você tem que priorizar a reeducação alimentar. O exercício físico é essencial, pois aumenta o seu gasto e preserva massa muscular, o que é importante para manter a taxa metabólica alta porque músculo queima caloria, gordura não.

MidiaNews – Se a pessoa quiser começar a emagrecer, deve iniciar pela dieta antes de fazer os exercícios físicos?

Marcelo Maia – Depende muito do peso que você tem. Se for muito, é melhor iniciar pela dieta para não forçar o joelho, coluna... Mas, se não for exagerado, pode iniciar os dois em conjunto.

MidiaNews – Depois dos 30 anos, o corpo começa a reduzir o metabolismo. A pessoa precisa se exercitar mais do que um jovem de 20 anos para emagrecer?

Marcelo Maia – Isso acontece porque começam a cair alguns hormônios, não tem a taxa metabólica mais alta, como na adolescência. Às vezes, a criança gordinha chega na adolescência, tende a perder peso, dá um ‘estirão’ e fica magra. Isso tem tudo a ver com os hormônios da puberdade. Depois dos 30 anos, começa a cair e temos que manter um nível de atividade física, que mantém a liberação desses hormônios, pois você tem a taxa metabólica boa e se necessário, faz a reposição hormonal nesses pacientes. Quem está acima dos 30 anos tem que trabalhar uns 30% a mais porque seu gasto calórico já teve uma queda.

MidiaNews - O que podemos fazer para acelerar o metabolismo? Há alimentos específicos para isso?

Marcelo Maia – Há alguns alimentos que consideramos termogênicos, como os cafés, os chás, chá verde, chá preto, chimarrão, as pimentas em geral, algumas plantas e a própria atividade física. Gengibre também, mas em um consumo regular.

MidiaNews – Ansiedade engorda?

Marcelo Maia – Isoladamente, não, mas ela leva ao aumento do corticóide, hormônio do estresse. Ele ativa as várias enzimas da lipase lipoproteicas, que fabricam a gordura do nosso organismo. Pegam as calorias e fabricam gordura, especialmente a abdominal. Além disso, o cortisol aumenta o apetite lá no centro da fome. Então, o estresse vai promover ganho de peso. Quando você está muito estressado, o cortisol leva você a procurar comidas mais calóricas, geralmente, ricas em açúcar e gordura. As enzimas para armazenar gordura ficam hiperativadas, tornando mais fácil o ganho peso do que se estivesse tranquilo. Também há a dificuldade em queimar gorduras nesse processo de estresse porque o cortisol não deixa você quebrar essa gordura.

MidiaNews – Por isso, o ansiolítico é tão importante nesse processo da perda de peso?

Marcelo Maia – Exatamente. Para você baixar os níveis hormonais e ficar no normal.

MidiaNews – A obesidade é genética?

Marcelo Maia – Tem um fundo genético importante, tanto que o tipo de obesidade, se ela é abdominal, no quadril, ou a pessoa tem a gordura mais generalizada, no corpo todo. Se você observar na família, é meio parecido o grau de distribuição. Hoje, a gente sabe que as alterações nos hormônios femininos leva ao acúmulo da gordura no quadril. São perfis genéticos diferentes. Para ser obeso, tem que ter o DNA da obesidade. Tem gente que come muito e não engorda, são pessoas boas oxidadoras de gordura, queimam e as transformam em energia. A maioria das pessoas queima bem carboidrato para transformar em energia e o excesso acumula para o corpo queimar depois. As pessoas que queimam bem a gordura ficam magrinhas, mesmo comendo muito bem.

MidiaNews – O brasileiro come mal?

Marcelo Maia – Geralmente, sim. Uma pesquisa Vigitel mostra que a gente come muita gordura saturada, a de origem animal, pouca fibra, consumo alto de álcool e muito açúcar simples, uma dieta muito ruim, parecida com o padrão americano, bem desbalanceada.


MidiaNews – O que é mais preocupante: a obesidade ou o diabetes?

Marcelo Maia – Seriam os dois. O diabete tipo 2 está relacionado com a obesidade. Primeiro; vem a obesidade; depois, o diabetes. São doenças casadas. Nem todo obeso vai ficar diabético, mas 90% dos diabéticos estão obesos. Se há histórico de diabetes na família, é importante não ganhar peso e praticar exercícios físicos e, dentro disso, uma alimentação com menos açúcar.

MidiaNews – É possível ser gordo e saudável?

Marcelo Maia – É possível. Você pode ter uma genética para ser uma pessoa mais cheia, comer alimentos mais saudáveis e compensar com atividade física. Tem pessoas que estão acima do peso e são atletas. Há pacientes que vêm aqui, no meu consultório, e fazem exames e estão melhores do que gente magra. Têm hábito de comer frutas e verduras, gostam de alimentos calóricos, mas também de alimentos saudáveis.

MidiaNews - A qualidade de vida está associada a um peso ideal ao corpo?

Marcelo Maia – Não só isso. Há jovensi bem magrinhos, mas com colesterol alto, triglicérides. Muitas vezes, não tem tendência a engordar, têm uma alimentação muito ruim, só comem alimentos pobres em vitaminas.

MidiaNews – O que é preciso ser feito para ter uma longevidade saudável?

Marcelo Maia – O principal, realmente, é dentro da dieta ingerir menos as gorduras saturadas, de origem animal, as carnes vermelhas, queijo amarelo, embutidos... Eles produzem muitos radicais livres, que danificam o DNA do ser humano. Quando mais danificado o DNA, se envelhece precocemente. Quanto mais você envelhece rápido, mais chances de câncer e doenças arteroscleróticas, infarto e derrame. Atividade física e moderada de 30 a 50 minutos diários. A atividade muito intensa não é saudável, passando um certo limite de exercícios, você produz radicais livres e aí tem envelhecimento precoce. O exagero não é bom, assim como ser sedentário.


MidiaNews – A figura do gordo ainda está relacionado com preguiça, falta de vergonha na cara?

Marcelo Maia – É relaxado, não tem força de vontade. É o que acontece com a depressão. São coisas que não são palpáveis, tem que ser tratadas como uma pessoa que está com problema e precisa de ajuda. Ninguém quer ser portador de uma patologia e não consegue se curar.

MidiaNews – A maioria dos seus pacientes o procurara para emagrecer por uma questão de saúde ou por estética?

Marcelo Maia – As mulheres, por questão de estética; os homens, por uma questão de saúde. O homem como não é muito cobrado , vem porque descobriu algum problema por estar com o colesterol alto, uma artrose, aí o médico disse que se ele não emagrecer, esta morto. A mulher não, ela vem espontaneamente. O homem faz até piada com a condição dele, pois não é cobrado. A mulher de hoje vive uma pressão social terrível.

MidiaNews – O senhor acha que um gordo pode ser feliz do que uma pessoa que vive dentro dos padrões estéticos?

Marcelo Maia – Possível é, mas não é fácil, isso falo pelos 15 anos que trato o assunto. A sociedade cobra demais deles, a pessoa é bombardeada o dia todo por cobranças, olhares, por situações constrangedoras, que deixam a pessoa com a baixa estima.

MidiaNews – Quais são os fatores ou momentos determinantes que levam a pessoa a romper a situação e decidir emagrecer?

Marcelo Maia – É muito variável. Mulheres têm mais a ver com o lado afetivo, casamento, relacionamento, a separação que o homem alegou isso e leva a essa mudança. O homem, a questão de saúde. Também há as situações sociais: se a pessoa deixou de passar em uma seleção de trabalho devido ao peso, um comentário grosseiro sofrido também leva a mudança. Mas, o começo da obesidade tem muitos fatores também. A gente percebe que separação dos pais, abuso na infância, questões conjugais também são muito frequentes.

MidiaNews - A pessoa passa a ganhar peso depois que se casou?

Marcelo Maia – Na verdade, começa a ganhar peso porque a relação conjugal não é boa e a pessoa não consegue sair daquele relacionamento. A válvula de escape acaba sendo a comida. O que ocorre também, especialmente entre as mulheres, é que ela começa a ganhar peso justamente para não agradar o marido, porque ela não quer mais o casamento. Ela pensa que, se ela ficar gorda, o cara não a procura mais.

MidiaNews – De um total de 10 pacientes, quantos desistem do processo de emagrecimento?

Marcelo Maia – O índice chega em torno de 60% dos que desistem. No consultório, algo em torno de 50%, mas é difícil mesmo, muitos desistem porque exige-se muito sacrifício, mudar hábitos... Às vezes, vai ter que abrir mão de reunião com familiares e amigos. Muitos não entendem e parecem que não quer ver a pessoa bem, só falta empurrar a comida para dentro da boca.

MidiaNews – Quanto mais peso para a pessoa eliminar, é mais fácil ela desistir?

Marcelo Maia – Não, não há relação. A quantidade de peso que você vai perdendo vai te dando motivação. Se você começa perdendo muito pouco, é o que vai desestimulando. Quem perde mais se motiva mais. Mas quem trabalha seriamente com obesidade não trabalha com peso ideal, a gente procura perder o máximo de peso possível para melhorar a parte metabólica do paciente e sua qualidade de vida. A meta de peso ideal é quase impossível, até mesmo, com os pacientes que fizeram cirurgia. Chega uma hora em que o organismo para, não deixa perder mais peso.

MidiaNews – Por quê?

Marcelo Maia – É uma adaptação metabólica violenta. A gente costuma dizer para os pacientes não sofrerem com os quilos não perdidos, mas agradeça aos que perdeu. Muitas vezes, se esquecem dos 40 que perdeu e fica lamentando por cinco quilos.

MidiaNews – Quantos quilos é possível perder por mês, de forma saudável?

Marcelo Maia – A primeira coisa do tratamento é tirar essa ansiedade do paciente. Recomenda-se de 0,5 a 1 kg por semana. Dois a quatro quilos por mês. A pessoa acha que será em um ano, mas depende muito de quanto essa pessoa precisa perder. O paciente que fez a cirurgia bariátrica, para perder 40 kg, é um ano também. A diferença é que ele perde um monte de quilos no primeiro mês porque não come nada, fica só na dieta com copinho de água; depois, começa a perder quatro quilos por mês. A diferença é de que a pessoa que fez a cirurgia sabe que vai emagrecer e não sofre com a ansiedade. A sensação de fome diminui 80%, esse é um dos benefícios da cirurgia.

MidiaNews – Atualmente, existe a moda "plus size" e todo um estilo de vida para obesos. Até onde o senhor acha que isso pode deixar se tornar algo positivo na valorização da autoestima dos obesos para uma apologia à obesidade?

Marcelo Maia – O ideal é não ser obeso, não por uma questão estética, mas porque, na média, a pessoa com excesso de peso pode chegar a perder 12 anos de vida em relação a quem não é obeso. É muito tempo. Mesmo em quem tem pouco peso, o aparecimento de doenças é muito mais frequente. Ficar acima do peso não é saudável. É uma cultura do consumo excessivo. É a mesma coisa de dizer que está acima do peso e está feliz é o mesmo princípio de quem usa cocaína e está feliz. Então, deixa ele ser feliz. Ambos vão ficar doentes. Muitas vezes, a gente tem um sofrimento por trás para não abandonar aquele hábito. O o que a gente tem que trabalhar é se a pessoa está feliz ou se a dificuldade é tão grande para que ela achar não valer a pena lutar, algo que gera ainda mais angústia. Pode ser ter que algum que esteja tranquilo em relação a isso, acredito que haja um gordinho feliz, mas obesos mórbidos, não. Estes sofrem com dores nas articulações, limitação de lugares para eles, a questão da parte higiênica. Não acredito que alguém que sofre com a obesidade neste grau se sinta feliz.

MidiaNews – Há diferenças nos tipos de obesos?

Marcelo Maia – Sim, aquele homem que chegou aos 40 barrigudinho é uma coisa, uns 15 quilinhos a mais é uma coisa, o obeso mórbido é outra coisa e o super-obeso de 200 quilos tem sofrimentos psicológicos diferentes, proporcionais ao peso e ao grau de sofrimento.

MidiaNews – A sibutramina ainda é o principal medicamento de combate à obesidade?

Marcelo Maia – A gente praticamente ficou só com ela e o orlistate. É um medicamento eficaz não para todos os pacientes, essa toda polêmica em torno da sibutramina é porque fizeram um estudo com pessoas idosas, cardiopatas que não deveriam nunca usar sibutramina mesmo. Acho que foi até uma questão comercial, para ‘queimar’ o medicamento, depois que ela perdeu patente. Às vezes, a gente usa antidepressivos para combater a ansiedade e tem pouco arsenal para tratar a obesidade. Os endócrinos fazem uma crítica à indústria farmacêutica. Hoje, se sabe tudo sobre o funcionamento da obesidade, só que nos últimos 10 anos não foi fabricado nada para combater a doença. Por algum motivo, a indústria não se interessa em fazer remédios para a obesidade. A gente se pergunta: será por que a complicação da obesidade gera mais lucro do que tratar a doença em si? Porque aí você não terá mais pessoas comprando remédio para diabetes, pressão alta, colesterol, artrose, fígado.

MidiaNews – O senhor acha que a cirurgia de redução do estômago foi banalizada?

Marcelo Maia – Já vi gente que engordou 18 quilos para operar. Você acha isso normal? Gente que, se perdesse 12 quilos não, ia precisar operar! Uma pessoa que faz isso ainda está com cabeça disturbiada. A pessoa esquece que a dieta vai ser para o resto da vida, vai ter que tomar suplemento vitamínico para o resto da vida. A cirurgia é uma mutilação, um corte no estômago. Vai te trazer benefício, mas também complicação no estômago. As pessoas precisam estar conscientes disso, mas ao invés disso tratam como se fosse uma lipoaspiração, ‘vou ali dar uma cortadinha no estômago’, não é assim, as pessoas banalizaram muito.

MidiaNews – Mas, não é o desespero?

Marcelo Maia – É o imediatismo da sociedade. Todo mundo quer rápido, não quer esperar mais nada. O jovem esta assim. Adolescente chega aqui querendo operar rápido, querendo reduzir o estômago, mas a dieta não está no estômago, está na cabeça das pessoas. Você não libera para o procedimento, mas aí eles conseguem laudos médicos com quem não faz um acompanhamento sério e depois voltam quatro, cinco anos depois querendo que você resolva o problema deles, pois voltou a engordar, esta com deficiências vitamínicas.


Fonte: MidiaNews

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